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27 de ago. de 2015

Aquela inesquecível derrota

Eu amo futebol. Eu amo o Paysandu.

E ontem eu fui ver um jogo de futebol em um estádio pela primeira vez na minha vida.

Só que isso não é exatamente verdade. Meu tio é narrador (Guilherme Guerreiro, porra!) e foi com ele que eu fui a um estádio pela primeira vez. Era o Barão de Serra Negra, XV de Piracicaba e Remo, acho que era 1999. Só não risco essa experiência da minha memória por amor ao meu tio, porque estrear vendo o Remo ninguém merece. Então faz de conta que eu só fui acompanhar meu tio no trabalho dele, ok?

Aí teve aquele Brasil x Argentina no Mangueirão em 2011, Superclássico das Américas. Eu fui. Eu considero que aquilo foi minha estreia no Mangueirão. E só.

Uma amiga me perguntou agora: por que vc nunca foi ao estádio? "Vc mora aí, o seu time tá aí, achei que vc ia sempre."

Eu nunca tinha ido porque nunca ninguém me levou, pra começar. Meus pais não iam. Eu sou menina, então meus primos e tios não me chamavam pra ir. Eu fui me apaixonando por futebol sentada confortavelmente num sofá, e enquanto vc não sabe o que tá perdendo num estádio, vc não se incomoda de continuar confortável. Acabei por me acomodar. Mas no fim acabei por me incomodar. Mais do que pelo amor pelo futebol. Pelo amor pelo Paysandu. Porque se vc não é bicolor, meu amigo, vc não sabe que esse amor não se instala quieto. Ele cresce, e cresce, e sempre continua crescendo. Aí meu filho nasceu. Ele me deu muito mais coisas do que dores nas costas e sono. Ele me deu vontade de levá-lo ao estádio. Mas a primeira dívida era comigo, e eu fui. Me sentindo velha pra essa estreia, não sabendo os rituais, perdida nos caminhos, guiada por gente mais nova que eu, eu fui.

E foi a primeira vez que eu fui assistir um jogo de futebol num estádio. Era o Mangueirão, era o Paysandu. Agora sim tava tudo certo. Porque, sejamos honestos, ver jogo da seleção é outra coisa, de outra natureza, é quase outro esporte. Seleção vc vai pela festa, a coisa toda é festiva. Não tem nervosismo, não tem a intensidade daquela paixão devoradora de entranhas, suadouros, tremedeiras, raivas e melancolias. Sabe aquela pessoa que tem uma casa e aluga a casa dela para veranistas quando ela sai de férias? É isso. Ver a seleção no Mangueirão é o veranista. Ontem eram os donos da casa.

Toda a dinâmica é de outra ordem. Mesmo que algumas pessoas estejam presentes nos dois tipos de evento, são outras pessoas. A relação entre elas é outra, é outro o barro de que são feitas. Estamos transitando em outra camada de nossas vidas. É mais basal, é mais essência.

Eu não consegui assistir o jogo. Só presenciei. Eu não conseguia prestar atenção racionalmente ao jogo. Tipo "tá ruim aqui, melhore ali, fulano isso, beltrano aquilo". Os primeiros 45 minutos foram de frio na barriga o tempo inteiro. Juro, sem exagero. O tempo inteiro. Parecia que a minha vida tava se decidindo ali, um teste de compatibilidade de doação de órgão, se tudo der errado minha morte é certa.

Claro que não é. Tô bem viva aqui. O final foi melancólico, mas não houve mortes. O que houve foi futebol, com paixão e melancolia, festa e ressaca. Hino do Pará cantado pela multidão. Porque, afinal, como diz o Guerreiro, "é Pará, isso!".

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