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29 de mai. de 2014

O primeiro mês a gente nunca esquece, mesmo que tente

Hoje meu bebê faz um mês. A primeira semana foi a pior semana da minha vida. A mais intensa, a mais exaustiva, a mais louca. Duvidei de tudo. Da decisão que eu tomara, da minha sanidade mental, da minha capacidade. Nada do que eu sabia antes me valeu, e eu de repente me tornara a maior incompetente do mundo com a missão mais difícil. Pra mim, pra esta pessoa segura e confiante que eu sou, isso era violento demais. Não saber mais o que eu queria, quem eu era, ver perdida minha vida que eu amava, como se alguém a tivesse escondido numa gaveta e eu não soubesse onde estava a chave. Era como um sonho. É, é claro que tinha que ter algo de onírico nisso tudo, né? Eu achava que ia acordar na minha velha vida. E morria de culpa porque desejava isso ardentemente.

Passa, é o que todos dizem. E têm razão, porque passa mesmo.

E tinha aquele bebê. Frágil e lindo. Com um poder avassalador sobre mim, de me conferir uma onipotência ilusória, de olhar pra mim fascinado com seus olhinhos cinzentos e me dizer sem palavras: "por mim, você poderá tudo, e fará tudo. eu confio em você". Mas como, bebêzinho? Como você confia, se nem eu confio? Não sei o que fazer, não posso tudo, vou errar muito e muito, e muitas coisas simplesmente não saberei nem poderei resolver pra você. E pra mim, essa pessoa despachada e resolvida que eu sou, isso é uma provação. Ver você chorar e não saber a razão, e ter que me contentar em acalentar e deixar você chorar até cansar, e talvez, com  sorte, dormir.

Passa rápido, é o que todos dizem.

Mas não têm razão.

Porque hoje parece que faz um século que você nasceu. Aqueles dias em que eu chorava descontroladamente te dando de mamar de madrugada, me perguntando que diabos eu tinha feito da minha vida, eu só queria chorar e dormir, e meu seio doía mais que uma contração, e meu leite era pouco e você nunca ficava saciado, e eu só queria que você dormisse. Tudo isso está imensamente longe. Desde então eu já consegui ir pra terapia duas vezes, ir almoçar no restaurante duas vezes, ir ao salão fazer as unhas, já entreguei umas cinco traduções e já não tremo nas bases quando você chora, acordando, porque já sei como te alimentar e te fazer dormir, e sei que vou dormir também, e adoro te alimentar e rir de gargalhada das tuas caretas quando você mama e ser seduzida pelas carinhas lindas que você faz na hora do arroto.

Tudo passa, bebê. Dorme direitinho que eu ainda quero escrever um pouquinho antes da próxima mamada, tá? Te amo.

2 comentários:

tá com você!