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8 de ago. de 2010

BBC's Sherlock: Holmes no século XXI - spoilers do 1o. episódio

Estou assistindo Monk enquanto escrevo a resenha do primeiro episódio de Sherlock, e isso deve dizer alguma coisa sobre mim. Eu adoro histórias de detetive, e tudo começou com ele. Sherlock Holmes. Comecei a ler as aventuras do detetive inglês aos 11 anos, e daí veio toda a minha paixão por romance policial. Mas também criou uma forte resistência a adaptações de Sherlock Holmes.

Sherlock não é dado a adaptações, é duro e sem humor, o que, no século XIX cabia perfeitamente. Mas, por exemplo, num filme de hoje, pouca gente ia querer ver, daí fazem um Sherlock totalmente descaracterizado, engraçadinho-tipo-humor-americano, gostando de mulher, fraco. Sherlock não é fraco, não enfraqueça Sherlock ou eu lhe meto a mão na cara. Ele não tem que ser coerente como um ser humano, ele não é Poirot, não tem sentimentos, Sherlock Holmes é um super-homem.

A grande idéia da adaptação da BBC foi transpor Sherlock para o nosso século. Isso dá a liberdade necessária para acrescentar os toques que atrairão o público, como o humor, mas com a fineza de mantê-lo britânico e inteligente, rápido e não óbvio. Então vamos a "A Study in Pink".


No nome eles já dão o recado: vamos beber na fonte. A primeira história de Sherlock Holmes chama-se "A Study in Scarlet", e há diversas referências durante o episódio, o suficiente pra acender o fogo sagrado dentro de mim. E, é claro, eu matei a charada antes do final.

"A ciência da dedução", nome do capítulo no qual Watson fica conhecendo o funcionamento da técnica sherlockiana, virou o nome do site. Aliás, amei o uso dos SMS e a parada de colocar as palavras na tela, bela sacada. A guerra no Afeganistão, onde Watson foi ferido, virou, bem, a guerra no Afeganistão. A história se repete or what? Pois é. Barts, o colega Stamford, o local do crime, a palavra Rache (embora com o sentido trocado), tudo bebe da fonte, mas se coloca de forma brilhantemente nova.

Mas a melhor parte foi a do celular! Todas as informações que Sherlock (é curioso chamá-lo assim, eu costumo usar "Holmes") deduz a partir da observação do celular de Watson, originalmente vêm de uma cena de "O Signo dos Quatro" (segunda história de Sherlock Holmes), mas no livro o objeto é um relógio de bolso. A mudança foi super bem-feita, até a história da dedução do alcoolismo pelos arranhões da entrada do carregador (no livro, era a entrada do pino de dar corda no relógio). Bom, no livro o irmão era irmão mesmo, ok?

E sem dúvida a escolha do elenco foi precisa. Nosso amigo Arthur Dent, ou melhor, Martin Freeman como Dr. John Watson é ótimo, mas Benedict Cumberbatch como Sherlock Holmes é fantástico. Tem a voz certa, a altura, o pescoço comprido, o rosto branquelo. E é bonito.

A viagem vai ser boa. Espero que tenha mais de três escalas, BBC!

Se quiser, aqui no velho QE tem mais posts sobre Sherlock Holmes: http://quartoescuro.blogdrive.com/categories/Sherlock%20Holmes-8.html .

7 de ago. de 2010

Here's what you missed on *Glee*!

Eu sabia que quando eu fosse me meter a ver Glee eu ia amar, e amei.

Glee é um High School Musical cáustico-pirado e com um repertório excelente feito para adultos. Apesar de os temos dos conflitos serem na maioria adolescentes, é muito mais focado nas suas lembranças de adolescência do que num estilo high-school-malhação de achar essas coisas realmente sérias e importantes. O humor avacalha com os conflitos, fala-se de tudo, de drogas e de sexo na maior patifaria e sem querer ensinar nada a ninguém, os losers estão no centro do universo (enfim perceberam que são os losers que estão sentados horas diante da tv e resolveram fazer tv pra eles, como Glee e TBBT), mas continuam sendo losers mesmo tendo seu próprio show.

A mocinha [Rachel Berry] é uma chata de galocha (meu deus, eu me vejo nela a cada episódio. sou insuportável), a vilã [Sue - absolutamente perfeita!] tem um diário e a outra mocinha, a professora legal, [Emma] tem uma lista de TOCs que lhe elegeriam para noiva do Monk. Com direito a cheerleaders vingativas, umas burras, outras nem tanto, e uma diva de personalidade vibrante [Mercedes], minha personal favorite do time das meninas do Glee Club é a improvável Tina, que cantou raivosamente "I Kissed a Girl" no teste, mas se revelou de uma intensa ternura no encontro com Artie e na interpretação de True Colors. Linda!!

Com uma mocinha chata como a Rachel brigando pelo galãzinho com a cheerleader, não vai faltar quem torça pelo adolescente gay [Kurt], que engrossa as fileiras de apaixonados por Finn, o atleta que tem sentimentos e uma puta voz. Até o judeu bruto de cabelo moicano [Noah Puck] canta bem e é bacanoso, mas é galinha, também não vamos exagerar. Artie me enganou tão bem que fui seca crendo que o ator era cadeirante de fato. A posição de pernas de ladinho pôs a Alinne Moraes no bolso. Mas não se enganem. O macho alfa do Glee Club é Mr. Schuester, el profesor de español. Que canta e dança "Vanilla ice ice baby" e continua uma tesão. Ui.

Glee bebe na fonte de Grease com a sede de gerações. Atores e atrizes americanos aprendem a cantar e dançar, além de atuar, e eu pago o maior pau pra isso. Valorizo muito, e morro mil vezes de inveja. Por que não temos uma escola de atores assim? Simplesmente não há essa tradição no Brasil. Pena...

Mas o ator principal de Glee é o repertório. É ele que chama audiência. De repente você está ali, assistindo despreocupadamente aquele seriado divertido, e aquele grupelho de jovens mega-ultra-máxi-talentosos faz uma performance inesquecível com uma música que você ama! Não usar músicas novas é brilhante. Sempre vai ter alguém a ser conquistado com uma das canções do episódio.



A música tem razão de ser, ali. Não tem aquela história de, de repente, o roteiro vira música e a cena continua depois numa estranheza total, o que costuma ser uma crítica de quem não gosta de filme musical. Não. Eles estão ali pra cantar, ensaiam e tudo mais. Claro que as canções são escolhidas de acordo com o tema do episódio, ninguém é bobo, mas nunca fica esquisito.

E as performances? MELDELS. Eu só posso dizer que se você ainda não viu, veja. É difícil dizer o que ficou melhor, mas eu, muito pessoalmente, adoro os mash-ups do episódio Vitamin D.